quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Muito mais que um amigo

Não poderia deixar de registrar a minha paixão pelos animais, pois intrinsecamente acredito que eles foram criados com a missão de nos ajudar, e de diversas maneiras. Quem tem, ou já teve um, sabe do que estou falando. Por isso, é inaceitável também não se lembrar de um velho amigo meu, o Fofão.
Poodle, daqueles grandes, Fofão foi um grande companheiro. De pêlos longos, levemente cacheados e permutados na cor cinza do céu de inverno, ele trouxe alegria e bons momentos para a minha vida. Tínhamos muitas coisas em comum. Parecia-me que ele decifrava o meu pensamento, ou às vezes, até interpretava os traços de meu rosto. Se estivesse bravo, ele nem se arriscava passar ao meu lado. Se estivesse triste, sentava em minha frente e fixava seus olhos nos meus, aliás, ele sempre olhava em meus olhos, independente da situação.
Seu nome, Fofão, não tem muito a ver com o seu peso. Logo pequeno recebeu esta qualificação devido a sua imensa graciosidade fofuresca. Não lembro bem o ano que o conheci, mas recordo como ele chegou lá em casa, ainda recém nascido, e com os olhinhos ramelentos e fechados.
Sua primeira cama foi ao lado da minha. Quando a noite chegava, e era hora de dormir, se reprimia e chorava. Não tinha outra solução, a não ser a de colocá-lo na minha cama. Era um folgado. No entanto, a mordomia não durou muito tempo, pois com o seu rápido desenvolvimento, sua cama teve que ir para o quintal, na área de serviço, mais exatamente ao lado da máquina de lavar roupa. Nas primeiras noites, os choros foram constantes, mas em pouco tempo ele se acostumou.
Apesar da inesperada mudança, ele ainda continuava com as seus privilégios. “Filho único” de casa, tudo era só para ele. Não precisava dividir o osso, muito menos a atenção com ninguém. Suas cachorrices prediletas eram engraçadas, porém muito nojentas. Uma delas era a de desenrolar rolos de papel higiênico, começando pelo meu quarto até a sala. Quando via, já era tarde, a casa estava mumificada. Entre essas e outras brincadeiras, Fofão e eu crescemos juntos, praticamente como irmãos, além dos meus de verdade, é claro.
Entretanto, os anos se passaram. A relação entre mim e Fofão continuava a mesma, tanto na alegria, quanto na tristeza. Mas eu não imaginava, que um dia tudo pudesse se acabar. Fofão já completava os seus bem vividos 15 anos, e com a tenra idade, a decrepitude também se aproximava. E foi num dia desses, uma tarde quente de verão, ao bradar dos pássaros, que tudo se acabou. Melhor, não se acabou, finalizou com grande êxito, pois já que eles vêm para nos ajudar, tenho certeza, que este veio, e seu papel cumpriu.