quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Bastidores de um concerto

Ter a casa cheia e, acima de tudo, agradar ao público. Sem dúvida, essa é uma das sensações, assim como o nervosismo, que todo músico tem antes de entrar em cena. Nisso, já ouvi de tudo, desde o tradicional "merda para você" - o que talvez signifique uma "boa sorte" - bem como o "toca certinho lá, heim", um pouco mais ameaçador. No entanto, acho que nenhum dos dois faz diferença para mim, mas vale à pena seguir à risca os mandamentos.
Continuando com as cortinas fechadas, podemos falar do ensaio que antecede a apresentação. É por meio dele, que temos alguns minutos para revisar a partitura, a iluminação, a roupa e até mesmo a nossa condição física - uma vez que tocar é mais que um exercício físico, é um ritual.
Descendo praticamente ao porão do teatro, encontramos as cenas mais engraçadas. Isso mesmo, no camarim. É gargalhada, conversa alta, choro, piada, afinação de instrumento, e outras coisas que não me convém contar. Em suma, um verdadeiro mercado Persa. E mesmo com esse "silêncio" de Réquiem de Mozart, que paira sobra o local, há gente que persiste em se concentrar, ou ao menos tenta.
Além do mais, há também aqueles que almejam tirar um cochilo e outros que não dispensam um bom jogo de cartas com os amigos. Enfim, cada um espera a hora do concerto da melhor maneira que puder.
Agora, se você quiser descobrir algum novato na área, é simples. Basta olhar de relance nos cantos mais recônditos, que lá estarão eles. Não que eles sejam excluídos, talvez, mas é uma questão de “veteranidade” dos demais -coisas da música.
E o engraçado é que sempre um deles tem que dar bola fora justamente nesses momentos. Seja derrubando um copo de café na roupa de alguém ou até mesmo esquecendo a gravata. Entretanto, são nessas horas, que muita gente ri da situação, mas compreende, pois já tiveram a sua "primeira vez".
Em suma, tudo que relato pode até parecer estranho, mas não passa de um mundo à margem do que conhecemos e vemos à distancia. É uma alegria vivida e apreciada em detrimento de outras, que no final se resume em uma bela apresentação dentro e fora do palco. Visto que, quem assiste a apresentação, sequer tem idéia do que acontece antes e após ele.
Com isso, tenho a liberdade de me dirigir a este assunto sem preocupações, pois também faço parte dessa família, melhor, a integro há mais de quatro anos, e ela sempre foi assim: competente e ao mesmo tempo despojada.
E inesperadamente foi num dos concertos que mais chamou a atenção do público limeirense neste ano - concerto sobre música de cinema -, que eu pensei em observar com um olhar diferenciado os bastidores da Orquestra de Limeira. E, justamente nessa apresentação, que contou com um repertório renovado de filmes, como O Castelo Rá-tim-bum (o filme), O Senhor dos Anéis, Piratas do Caribe, Perfume de Mulher, A Missão, Harry Poter, entre outros, eu tive a oportunidade de me distanciar do fato, e ter uma visão de tudo e de todos que poucas pessoas percebem. Resumindo: trata-se de um misto de emoções, que no próximo ano também deve contar com um bis, e talvez com algumas novidades.